segunda-feira, 9 de março de 2015

O desenvolvimento do país é possível sem Educação?



O desenvolvimento do país é possível sem Educação?

Euforia econômica, democracia estável e melhoria social. Estamos a cominho de virar uma potência? A resposta passa pela Educação

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ESPELHO MEU A década começa com muitas dúvidas sobre a cara que o país vai ter. Gráfico: Mariana Coan
ESPELHO MEU A década começa com muitas dúvidas sobre a cara que o país vai ter
Há não muito tempo - nos anos 1980, para ser mais preciso -, se o Brasil pudesse se olhar no espelho, enxergaria o reflexo de um país subdesenvolvido. Inflação galopante (inacreditáveis 1.782% em 1989), um sistema político frágil e índices sociais alarmantes (para ficar em um exemplo da Educação, uma em cada cinco crianças entre 7 e 14 anos estava fora da escola). Hoje, a imagem é outra. Preços sob controle (inflação de 5,9% no ano passado), democracia consolidada, crescimento recorde (previsão de alta de 7,5% no Produto Interno Bruto em 2010, maior valor desde 1986) e melhoria nos indicadores sociais (a taxa de atendimento dos 6 aos 14 anos subiu para 97,6%, em 2009).

Está na cara que o país avançou. Mas quanto? Já não é tão fácil definir que tipo de país somos. Será que a confiança se justifica e, finalmente, chegou a vez do "país do futuro"? Ou ainda estamos distantes de ingressar no seleto time das nações desenvolvidas?

Se avaliarmos o momento atual com um olhar histórico, não dá para negar que o cenário é positivo. No estudo A Pequena Grande Década: Crise, Cenários e a Nova Classe Média, da Fundação Getulio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro, o economista Marcelo Cortes Neri mostra que, além do crescimento econômico, os índices recentes apontam a diminuição do fosso entre as classes sociais. Entre 2003 e 2008, a renda per capita dos 10% mais ricos aumentou 3,9% ao ano, enquanto a dos 10% mais pobres subiu, anualmente, 9,6%. Como resultado, 19 milhões de brasileiros saíram da pobreza. "Poderíamos chamar a primeira década do terceiro milênio como a da redução da desigualdade de renda, da mesma forma que a década de 1990 foi a da conquista da estabilidade, a de 1980, a da redemocratização, e a de 1970, a do crescimento", escreve Neri em Atlas do Bolso dos Brasileiros.

Mas o otimismo não é unanimidade. Em artigo para a revista Exame CEO, o economista Eduardo Giannetti classifica as elevadas taxas de crescimento de 2010 como um ponto "fora da curva". Segundo ele, o Brasil já vivenciou bons ventos no passado - a euforia desenvolvimentista do governo de Juscelino Kubitschek, entre 1956 e 1961 (crescimento do PIB de 8% ao ano), e o "milagre econômico", entre 1968 e 1973 (elevação anual do PIB de 10%) -, mas que não foram convertidos em uma prosperidade duradoura.

A preocupação expressa por Giannetti faz sentido. Para evitar que esse enredo volte a se repetir, nosso país tem de estar preparado para absorver os aumentos de demanda. Explicando melhor: quando um país cresce, ou seja, quando cada vez mais gente tem mais dinheiro para gastar, indústrias e empresas precisam produzir mais. Para fazer isso, os empreendedores necessitam, basicamente, de dois tipos de capital: o físico, relativo à infraestrutura (energia, máquinas e instalações adequadas), e o humano (braços e mentes para o trabalho). Quando a produção não acompanha o aumento da procura por determinado bem ou serviço, os problemas se multiplicam: déficit na balança comercial (situação em que as importações superam as exportações, pois não é possível encontrar o produto no Brasil), inflação (como aumenta a competição pela compra, os comerciantes podem cobrar mais) e os gargalos do crescimento (o que já ocorre na aviação civil - em aeroportos como o de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, as companhias requisitam, a cada hora, 12 pousos e decolagens a mais do que a capacidade máxima de operação).

Nesse ponto, Giannetti e Neri concordam que o caminho do desenvolvimento passa, inevitavelmente, pela Educação. Para suprir uma demanda cada vez maior e mais sofisticada, é fundamental qualificar a mão de obra. Se desejamos seguir a trajetória dos países de primeiro mundo, precisamos aumentar o número de pessoas com formação técnica e superior. Um desafio e tanto, já que menos de um terço da população brasileira possui graduação ou curso técnico, índice muito inferior à média de 44% da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne as nações mais desenvolvidas do planeta.

Enfrentar o desafio de melhorar a qualidade nesta década
NA EDUCAÇÃO, GARGALOS PARA CRESCER Ampliar o número de anos de estudo e melhorar a qualidade do ensino são providências essenciais para qualificar melhor a mão de obra. Gráfico: Mariana Coan
NA EDUCAÇÃO, GARGALOS PARA CRESCER Ampliar o número de anos de estudo e melhorar a qualidade do ensino são providências essenciais para qualificar melhor a mão de obra Fontes: Relatório De olho nas metas 2010 e Indicadores do Índice de Desenvolvimento Humano
A lição de casa deve começar na Educação Básica. Não podemos mais fugir dos dois maiores obstáculos que se colocam para a evolução dessa etapa da instrução. O primeiro deles é ampliar o número de anos de estudo da população brasileira, ainda baixo (leia o quadro acima). Na década de 1990, alguns estudos chegaram a defender que, a cada ano a mais na escolaridade média de um país, o PIB medido seria entre 20 e 35% maior.

Pesquisas mais recentes, porém, têm encontrado resultados menos animadores, afirmando que a relação entre as duas variáveis não vale para todos os países (de fato, um ano de Educação no Brasil não equivale, infelizmente, a um ano de Educação na Finlândia). Isso direciona a atenção para o segundo obstáculo: melhorar a qualidade do ensino. Os últimos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) mostram que o desempenho dos alunos brasileiros não foi suficiente para nos tirar da rabeira nos rankings das disciplinas. E o relatório anual De Olho nas Metas, do movimento Todos pela Educação, indica que a grande maioria dos estudantes de 5º e 9º anos está muito abaixo do nível adequado para sua série.

Reconhecer que os problemas do desenvolvimento não desaparecem de um ano para o outro não significa abandonar a esperança. Ainda que a realidade limite o alcance dos sonhos, o desejo de mudança tem, sim, o poder de modificar o que há por vir. "No universo das relações humanas", diz Eduardo Giannetti, "o futuro responde à força e à ousadia do nosso querer". Concordamos que a Educação é essencial para entrar no primeiro mundo? Então, precisamos persistir no receituário das nações bem-sucedidas: valorizar o professor, aperfeiçoar o sistema de avaliação, focar a formação e investir em infraestrutura. Tudo começa com o desejo de chegar lá e continua com vigilância e fiscalização. No fim das contas, o país que veremos no espelho no fim desta década terá a cara que conseguirmos construir.

2 comentários:

  1. A reportagem da Revista Escola mostra que apesar do nosso país ter evoluído em vários aspectos, com relação à educação, ainda há muito que se fazer. Segundo Eduardo Giannetti, a Educação Básica deve receber principal atenção, pois nas últimas séries do Ensino Fundamental, o desempenho dos alunos ainda deixa a desejar. Para Giannetti, seria preciso valorizar o professor, investir em infraestrutura, aperfeiçoar o sistema de avaliação e focar na formação, fiscalizando, vigiando e querendo construir um país melhor.

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  2. A valorização do professor, não apenas salarial, mas como profissional é necessária para qualquer país que diz levar a sério e priorizar a educação.

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