sábado, 21 de março de 2015

Por que os jovens não querem ser professores?

Pesquisa mostra que apenas 2% dos jovens querem ser professores

Falta de qualificação dos novos docentes também preocupa pesquisadores

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SÃO PAULO - A falta de professores qualificados ainda preocupa no Brasil, e a desvalorização da carreira faz com que muitos jovens prefiram outras profissões. Cerca de 600 mil professores que atuam na educação básica — que inclui a educação infantil e os ensinos fundamental e médio — não têm o preparo necessário à função, de acordo com o Ministério da Educação (MEC). E apenas 2% dos jovens querem cursar Pedagogia ou alguma licenciatura, segundo pesquisa da Fundação Carlos Chagas.
Pela legislação atual, os professores da educação básica têm que ter nível superior. Porém, cerca de 600 mil dos quase dois milhões de docentes do país não possuem curso universitário, segundo o MEC. De acordo com o secretário de Ensino Superior do ministério, Luiz Cláudio Costa, cerca de 300 mil estão fazendo licenciaturas ou mestrado para se adequar à exigência.
Na avaliação de especialistas, há carência de professores qualificados em diversas áreas, como nos primeiros anos da educação infantil e nas disciplinas de Física e Química.
— Nas Ciências Biológicas, faltam professores praticamente em todos os setores. As redes procuram cobrir isso usando profissionais que, na sua formação, tangenciam as disciplinas (em que há falta de professores) — diz a pesquisadora Bernadete Gatti, colaboradora da Fundação Carlos Chagas.
Como outros especialistas, Bernadete se preocupa com a queda no número de alunos de licenciatura ou Pedagogia. Segundo o MEC, esse número vem diminuindo na modalidade presencial, por causa da falta de interesse dos jovens. Em 2005, 1,2 milhão de alunos estudava alguma licenciatura, número que, em 2009, passou para 978 mil. No mesmo período, o número de alunos de Pedagogia caiu de 288 mil para 247 mil.
No entanto, houve expansão das graduações à distância, para atender à necessidade de professores que já estão no mercado de trabalho. De 2005 para 2009, o número de estudantes das licenciaturas subiu de 101 mil para 427 mil. Nos cursos de Pedagogia, o número pulou de 27 mil para 265 mil, no mesmo período.
— Nem todos os cursos à distância são ruins. Mas eles não são supervisionados direito, não têm uma proposta clara. Muitos alunos desistem porque não têm com quem discutir — diz a superintendente de pesquisa em Educação da Fundação Carlos Chagas, Elba Siqueira Barretto.
MEC rebate e diz que tem fechado cursos de má qualidade.
A evasão dos cursos de Pedagogia e licenciatura também preocupa educadores.
— Nas universidades privadas, os cursos de licenciatura e a Pedagogia são os que têm as taxas mais elevadas de evasão, de 50 a 55% — afirma Maria Helena Guimarães Castro, ex-presidente do Inep, órgão responsável pelas estatísticas do MEC.

"Quero lutar pela educação", diz estudante
Pesquisa realizada em 2010 pelas fundações Carlos Chagas e Victor Civita mostrou que, dos 1.500 alunos ouvidos, apenas 2% dos jovens do terceiro ano do ensino médio pretendiam cursar Pedagogia ou alguma Licenciatura.
— A carreira é um horror. Apesar de os planos de carreira terem melhorado, e de existir um piso salarial nacional  eles deixam a desejar. A média salarial está baixa em relação às exigências. Outra coisa que afeta a escolha é a condição das escolas públicas, que são precárias, sem infraestrutura e gestão — diz Bernadete.
Mesmo sabendo desses problemas, o estudante de Pedagogia Cesar Scarpelli, de 24 anos, quer dar aulas para crianças:
— Quero lutar pela educação. Meus pais sempre falam: "não vá trabalhar na rede pública", por causa da ideia de que é uma profissão sofrível. Mas acho que temos que ir para a periferia.
Rivaldo Vieira Xavier Júnior, de 21 anos, estuda licenciatura em Física e sabe bem o que é sofrer com a falta de professores:
— Estudei em escola pública e fiquei sem aulas de Química por quase todo o segundo ano do ensino médio. Tenho interesse em educação devido à realidade da escola onde estudei. Ser professor no Brasil é ato de coragem.
Já a estudante de Pedagogia Maria Alice Bertodini diz que é preciso ser sonhador para abraçar a profissão:





Um comentário:

  1. Essa pesquisa foi feita entre 2010 e 2011 e ainda, infelizmente é uma realidade, em uma pesquisa feita por mim, nos dois municípios da baixada fluminense em que trabalho, mas de 70 % dos professores mostram interesse em sair da profissão, muitos preparam-se para concurso público em outras áreas como Justiça, Inss,Fazenda e etc... onde o salário é muito superior e não há o desgaste que existe na área de educação. Alguns, como eu, pensam como esse jovem da reportagem, em ir para a periferia e fazer a diferença. Sempre estudei em escola pública e muitas vezes sofri essa realidade de falta de professores e os que estavam lá não se dedicavam, então tento fazer o máximo pelos meus alunos, pois acredito que um bom professor tem a capacidade de inspirar seu aluno a querer crescer na vida. Realmente nas pesquisas que temos feito, percebemos muitos professores, doentes ou decepcionados com a desvalorização da profissão, não apenas na questão do salário, mas um desprestígio total. Antigamente quando você dizia que era professor as pessoas te olhavam com respeito e admiração, hoje te olham com pena ou desdém, mas creio que cabe a nós professores e futuros pedagogos lutar para uma mudança nessa realidade, pois a educação gera transformação nas pessoas, como disse Paulo Freire: "Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo', e seremos agentes dessas mudanças

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